terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Transgressões

Como se mastigasse o tempo devagar, sem desespero, mas de olho na vitrine, onde ao lado dos petit-four de amêndoa jaz em calda a minha ansiedade. 
O dia corre nem tão burocrático assim, mas finda actividade o retorno inevitável à cadeira, à espera de uma palavra que surja no horizonte electrónico e virtual que materialize na ausência o sorriso apaziguador, que faça desvanecer por umas horas o vazio com que me vejo a braços. Ruidoso e inquietante este silêncio transeunte, morosos todos os semáforos de razão que me multam na espera a cada transgressão de impaciência a que o teu corpo me obriga.

domingo, 8 de outubro de 2017

Outono

A minha casa fica numa esquina, de um dos lados ombreia a conhecida 'rua das árvores'... Estou contente, porque é domingo e, deitado no sofá, deleito-me com os farrapos de sol que me entram janela adentro enquanto retomo a leitura interrompida do jornal, de anteontem...e de há várias semanas. Recupero atrasos nas urgências dos dias. Sonho com o meu cachimbo, cujo o tabaco acabou. Mais logo vou comprar um bom tinto.

Estou contente, há luz e silêncio... Ponho um disco na vitrola... Aahahha Brinco, ponho o mp3 a tocar no computador, este: Piedra Solar.
Recordo ainda quando ia ao bairro alto e, passados uns copos, descia à Bica e algures, num bar cabo verdiano, estava o Mo Francesco, recém chegado a Portugal (haveria já um ano? talvez) a dar uma canja, num trio raro, desafinado, mas muito bem disposto... Ainda agora chegara, mas via-o em todo o lado a tocar. Ainda bem.

Aconselho, é muito belo e solar, este Piedra Solar.

Para quem tiver a sorte de estar por este Portugal fora deixo as minhas sugestões e pedidos:

1. Outono em Jazz - na Casa da Música: Outono em Jazz; escolham de olhos fechados...e deliciem-se... Sugiro os dois concertos do meu amigo Pablo Lapidusas com o seu imenso P.L.I. N. T. e o regressado Marcelo D2 & Sambadrive a par de Tony Allen Quartet...mas a verdade é que escolher num cartaz destes é pura tortura...

2. Famalicão, cidade onde ainda não estive...mas que urge conhecer... de 14 a 21 o Close Up, eles não gostam de lhe chamar festival [só aqui ganharam um fã!!!!!], portanto, laboratório de cinema... umpf [suspiro] quero um cine clube aqui agora e já!

3. Lisboa Lisboa Lisboa...mesmo carregado de turistas, dias há em que te sinto a falta...

Para quem é freak mas não é chato como a potassa, pseudo intelectual, gajo esquisito mas armado em parvo, idiota, alternativo, hetero, gay, trans...ou para quem é isto tudo ou para quem simplesmente gostar, ou simplesmente para quem estiver interessado, ou, melhor, para quem quiser fazer algo mais do que ser 'cool' e 'trendy':  ZDB. Há aqui uns quantod concertos que eu iria espreitar... Thurston Moore, Colleen, Rafael Toral, Alex Zhang Huntai...enfim...

4. Liberdade, do meu querido André Amálio, no Maria Matos de 12 a 15 de Out. O último espectáculo de uma triologia que teve início com Portugal não é um país pequeno, seguido de Passa-Porte, e culminando neste ultimo capítulo. Espectáculos que seguem a linha de teatro documental que André, com a sua companhia, Hotel Europa, nos tem surpreendido pela positiva, convidando-nos a activamente repensarmos a história, pelo menos aquela que nos foi contada. Vejam, mesmo!!!!


Estas foram as sugestões...agora o pedido... VEJAM VEJAM VEJAM...e digam-me como foi!





"O que sabemos nós oferecer sem receber alguma coisa em troca?"

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Blues

Chega já do azul violáceo do poema.
Do adjectivo sanguinário.
Acolhamos o veludo da noite
no abraço terno
na noite quente.
A memória do teu pescoço
Inquieta-me
Deslizo pelo teu ventre
O teu sexo inunda-me
A boca abre-se ao sorriso
do teu cabelo
Adormeço nos teus braços
Desejo te com ternura e com tesão.
Adormeço sereno, mas com desejo
E sorrisos.
Sem o veneno da paixão
Mas com a ternura de um beijo
Apaixonado.

05 Julho 2017

sábado, 10 de dezembro de 2016

O lugar de onde se olha

Ele pega-lhe na mão, denunciando o início de um novo capítulo.
Ele pega-lhe na mão traindo a lógica, pois, o gesto foi de candura, de inocência e a intenção foi de lascívia, de poder.
Esse acto antitético era como uma fotografia que era simultaneamente clara, focada, brilhante e baça e desfocada e turva.
Como se uma fronteira fixa fosse alternando o seu limite consoante o lugar de onde se olha.

"Temos tempo..." disse ela, e a boca dele secou...e ele sentiu uma acidez como se de um refluxo gástrico se tratasse, pois toda a promessa de futuro que a semântica encerra era atraiçoada pelo tom que, escamoteadamente, revelava o cheiro fúnebre e sombrio dos últimos minutos.

domingo, 30 de outubro de 2016

quarta-feira, 12 de março de 2014


O tempo corria devagar...
tão devagar que os segundos queimavam os dedos, a alma...

Com o cair do sol cai a calma, e o alambique - qual porto de abrigo -
faz-nos desaguar no Letes...


...que em minha boca encontres negro óbolo, vil barqueiro...